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Reportagens de nossos correspondentes em várias partes do mundo sobre fatos políticos, sociais, econômicos, científicos ou culturais, ligados à realidade local ou às relações dos países com o Brasil.
Camila Rosa: quem é a brasileira que assina a capa de 100 anos da The New Yorker
08 March 2025
Camila Rosa: quem é a brasileira que assina a capa de 100 anos da The New Yorker

Do ativismo feminista e pró-democracia em Joinville, Santa Catarina, à capa comemorativa dos 100 anos da revista The New Yorker, a jornada de Camila Rosa é marcada por resiliência, talento e uma forte identidade visual. Ela se instalou definitivamente em Nova York em 2024, mas a relação com a cidade remonta a 2014, quando começou a explorar novas oportunidades na cena artística internacional.

Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova York

"Sempre quis ilustrar para a The New Yorker, mas nunca imaginei que minha estreia seria logo em uma capa", conta Camila. Seu primeiro contato com a publicação ocorreu em 2023, quando a revista a convidou para desenvolver esboços para uma possível capa comemorativa dos 98 anos da publicação. O projeto não foi adiante, mas o interesse permaneceu. Um ano depois, Camila decidiu retomar o contato e, em junho de 2024, enviou um e-mail à editora. A resposta veio em dezembro: "Vamos retomar". O processo foi rápido, com ajustes e definição de cores até que, finalmente, a confirmação chegou: sua ilustração faria parte da histórica edição do centenário da revista.

A capa comemorativa teve seis versões, sendo a original de 1925 acompanhada por outras cinco ilustrações contemporâneas. A obra de Camila Rosa foi uma das selecionadas para circular na edição especial e traz um olhar singular e representativo sobre a figura feminina.

O ativismo como raiz do trabalho

A trajetória de Camila Rosa na arte tem suas origens no movimento punk e na cultura alternativa de sua cidade natal. Desde muito jovem, participava de eventos onde se discutiam feminismo, direitos das mulheres e questões sociais através de zines e manifestações. "Foi meu primeiro contato com a política e com a necessidade de expressão", lembra.

Mesmo sem seguir uma militância formal na fase adulta, sua produção artística manteve-se como um espaço de discussão e representação. "Meu trabalho é minha forma de continuar falando sobre aquilo em que acredito", afirma.

A descoberta da identidade latina

"Eu nunca tinha parado para pensar sobre ser latina até vir para os Estados Unidos", conta. A experiência de morar em Nova York a fez perceber diferenças culturais e estéticas entre seu trabalho e a produção americana. "Passei a olhar mais para o Brasil, para outras regiões da América Latina e para a comunidade latina daqui", explica.

Seu estilo passou a refletir mais diretamente essa identidade. "As mulheres que desenho têm traços latinos, uma força e uma expressão que remetem às pessoas que vejo ao meu redor. Isso aconteceu naturalmente, sem ser algo calculado."

Murais e arte urbana

Além das ilustrações editoriais, Camila também se destaca na street art. Influenciada por amigos da cena do grafite em Joinville, iniciou-se na arte urbana por meio de coletivos de lambe-lambe e posteriormente expandiu para murais de grande escala.

"A rua tem essa questão do acesso, qualquer um pode ver. É diferente de uma galeria. Fico feliz em ver meu trabalho em formatos grandes e acessíveis", diz. Entre suas obras, destaca-se um mural de 20 metros no Rio de Janeiro, de 2021, e projetos no Brooklyn, em Nova York, onde já participou de iniciativas como o Underhill Walls e Washington Walls.

 Capas de livros

Camila também tem uma trajetória significativa na ilustração de capas de livros. Um dos projetos de maior sucesso foi a capa de Daughters of Latin America: An International Anthology of Writing by Latine Women, de Sandra Guzmán. A editora HarperCollins identificou seu trabalho e entrou em contato diretamente para utilizar uma ilustração já existente. "Eu já tinha essa ilustração, e eles olharam e falaram: 'A gente queria usar essa ilustração na capa desse livro.' Eu finalizei e mandei para eles, e depois de um ano, quando foi sair, a autora veio falar comigo. Ela disse: 'Camila, a gente vai ter o lançamento do livro, eu queria muito te conhecer.' Fui conhecê-la pessoalmente, super querida."

Outro projeto marcante foi o livro 5 Júlias, de Matheus Souza, publicado em 2019. Neste caso, Camila não fez a capa, mas ilustrou partes internas do livro. Ela também colaborou com a coleção Rebel Girls, uma iniciativa europeia traduzida para diversas línguas, que celebra histórias de mulheres inspiradoras ao redor do mundo.

Além disso,Camila ilustrou o livro infantil Pelé, escrito por Maria Isabel Sánchez Vegara, parte da coleção Little People, Big Dreams. Essa série, originalmente espanhola, traz biografias ilustradas de personalidades influentes, tornando suas histórias acessíveis para crianças de todas as idades.

Seu trabalho com capas e ilustrações de livros reflete seu compromisso em contar histórias visuais que ampliam narrativas sobre identidade, diversidade e representatividade.

O impacto da sua trajetória

Para Camila, ilustrar uma edição histórica da The New Yorker é um marco significativo. "Talvez seja o trabalho mais importante que fiz. É uma revista de 100 anos que ainda preserva a arte da ilustração, algo raro no mundo editorial. Chegar até aqui significa muito para mim como artista."

Entre a militância, a identidade e a arte, Camila Rosa segue transformando espaços e narrativas, levando sua voz e suas cores a novos horizontes.

Feira de arte contemporânea ARCOmadrid traz diversidade da arte amazônica para dialogar com o mundo
08 March 2025
Feira de arte contemporânea ARCOmadrid traz diversidade da arte amazônica para dialogar com o mundo

Os holofotes do mundo das artes estão voltados para Madri. Desde o último dia 5, a capital espanhola recebe a 44ª edição da ARCOmadrid, uma das mais importantes feiras internacionais de arte contemporânea. Em 2025, o evento conta com a presença de cerca de 200 galerias, sendo 20 delas brasileiras, e destaca a Amazônia. Percorrer os pavilhões 7 e 9 do Ifema, centro de eventos que abriga a feira, é encontrar as mais diversas técnicas e mensagens de artistas.

Ana Beatriz Farias, correspondente da RFI em Madri

O projeto “Wametisé: ideias para um amazofuturismo” é a seção central da ARCOmadrid 2025. A curadoria, compartilhada entre Denilson Baniwa e María Wills, em colaboração com o Instituto de Estudos Pós-Naturais, convida o público a mergulhar nas múltiplas Amazônias possíveis. Baniwa enfatiza que a Amazônia vai muito além de um espaço geográfico que necessita de proteção. “É um espaço que precisa ser escutado, precisa ser entendido a partir da sua floresta, a partir das pessoas que convivem ali”, pontua.

A Manaus Amazônia é uma das galerias representadas. Criada em 2016, a galeria brasileira iniciou suas atividades no mercado local, fomentando a cultura do colecionismo na região. Agora, estreia no circuito internacional na ARCOmadrid, trazendo obras de Duigó, Dhiani Pa’saro e Paulo Desana. Por meio da pintura, marchetaria e fotografia, as obras expostas destacam uma Amazônia que, muitas vezes, ficou à margem de espaços como esse, como analisa Carlysson Sena, fundador da Manaus Amazônia Galeria.

Sena observa que a região amazônica esteve muito tempo afastada dos processos de desenvolvimento do mercado da arte. “Nós somos também um grito de resistência dentro da Amazônia. E agora abertos para receber todas as pessoas do mundo”, reforça.

Arte amazônica para dialogar com o mundo

Quem também promove uma abertura da Amazônia para o mundo, com base em novos paradigmas que permitam que os povos amazônicos falem de si e por si, é a artista Uýra. Ela defende a expressão artística como alternativa para a transmissão de mensagens comumente ignoradas pela política institucional.

“A arte tem sido esse caminho possível para dialogar com o resto do mundo. Nos reapresentar de uma forma muito mais real, humana – e também não humana – e menos exótica e colonial”, afirma. A artista argumenta que o “imaginário afixado na cabeça do mundo” sobre a realidade amazônica é perigoso, por limitar a Amazônia a uma floresta verde, contínua, sem culturas e sem saberes.

Para Uýra, o protagonismo dos povos amazônicos no processo de reapresentação da Amazônia ao mundo é essencial. “Há mais coisas ditas sobre a Amazônia do que as ditas por nós. O que estamos fazendo é só dizer por nós mesmas quem nós somos e de onde viemos”, explica.

Na ARCOmadrid, Uýra apresenta a obra Lama, uma fotoperformance na qual aparece coberta de lama, em meio ao azul da água, entrelaçada com plantas de diferentes tipos. A escolha da mistura de terra e água transmite uma mensagem que vai além da estética. “A obra aborda a importância de construir algo novo, algo bonito, algo relevante a partir das diferenças”, como as que existem entre os dois elementos que formam a lama.

Luta coletiva

A Carmo Johnson Projects, que também faz parte do espaço curatorial amazônico, representa a artista Naine Terena e o Coletivo Mahku. Naine Terena mescla elementos da natureza com fitas de cetim em tecelagens que evocam histórias ancestrais. Já o Mahku constrói uma identidade visual coletiva para refletir sobre a vida amazônica por meio da pintura.

O representante da galeria, Nicolas Davenport, conta que o coletivo Mahku tem um projeto de reivindicação territorial e recuperação histórica da cultura indígena. “O lema é ‘vende tela, compra terra’. Existe esse processo de reivindicação territorial para conseguir preservar o espaço e a cultura deles vivos”, destaca.

Galeria veterana

Fora do eixo curatorial amazônico, no programa geral da ARCOmadrid, a Galeria Luciana Brito também representa o Brasil. Presente na feira de 1998 até 2019, a galeria retorna à edição de 2025 trazendo artistas históricos como Geraldo de Barros, Waldemar Cordeiro e Regina Silveira, além de Ivan Navarro, Rafael Carneiro, Gabriela Machado, Caio Reisewitz e Bosco Sodi.

Segundo a galerista Luciana Brito, a ARCO é uma feira essencial para a arte latino-americana, já que, por estar na Europa, oferece acesso direto a colecionadores, diretores de museus e curadores europeus. Ao mesmo tempo, de acordo com ela, a feira atrai um público latino-americano significativo – incluindo argentinos, colombianos, mexicanos e brasileiros. 

Identidade negra em foco

Além do programa “Wametisé: ideias para um Amazofuturismo” e do programa geral, a ARCOmadrid apresenta duas outras seções com curadoria especial: “Opening. Novas Galerias”, dedicada a galerias jovens, e “Perfis | Arte latino-americana”, voltada para a valorização da produção artística regional. É justamente nessa última que figura a Galeria Cerrado, mais uma representante brasileira no circuito artístico internacional.

A presença da Galeria Cerrado em Madri marca sua estreia em feiras internacionais. A vinda à Espanha aconteceu depois de uma visita do curador José Esparza ao projeto Sertão Negro, do artista Dalton Paula. “Sertão Negro é um ateliê-escola onde ele (Dalton Paula) provê esse espaço, toda essa estrutura para que os artistas com quem convive – que ele chama de residentes – possam produzir ali, de forma conjunta, mas cada um com seu trabalho autoral”, relata Luiza Vaz, diretora da Cerrado.

Os visitantes encontram na mostra trabalhos de Dalton Paula e também projetos de artistas jovens que estão sendo mostrados pela primeira vez na capital espanhola, como Tor Teixeira, Abraão Veloso, Genor Sales e Lucélia Maciel. Por meio de técnicas como a pintura, a tapeçaria e a escultura, os residentes do projeto Sertão Negro exploram diversas perspectivas da negritude, enriquecendo o diálogo sobre o tema.

Oportunidade para galerias brasileiras

Ao analisar o panorama da feira, o consultor de arte Brunno Silva observa que a ARCOmadrid serve como uma porta de entrada para colecionadores europeus no mercado brasileiro e latino-americano. Segundo ele, o público é receptivo e interessado nas várias manifestações culturais do Brasil e da América Latina. 

Ele também destaca a diversidade da representação brasileira no evento. “É interessante observar essas 20 galerias. Quando a gente anda pela feira e observa as obras que elas trouxeram, a gente não vê 20 galerias iguais. Muito pelo contrário, a gente vê diversas formas de ilustrar a pluralidade dessas galerias dos artistas que elas representam”, comenta.

“Além do mais, é claro, é sempre importante ver essa profissionalização do mercado de arte brasileiro, e o mercado europeu é bastante importante de um ponto de vista global”, acrescenta Silva. Para ele, a presença das galerias brasileiras na ARCOmadrid contribui para “consolidar a importância da arte brasileira no mundo”.

Dezesseis das 20 galerias brasileiras participantes da ARCOmadrid 2025 contaram com o apoio do projeto Latitude, uma parceria entre a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e a Associação Brasileira de Arte Contemporânea (ABACT).

A ARCOmadrid, que inicialmente recebeu apenas o público especializado, abriu suas portas para o público na sexta-feira (7). As visitas podem ser feitas até o domingo, 9 de março.

Oscar 2025: Brasileiro está na disputa por efeitos visuais de “Wicked”
01 March 2025
Oscar 2025: Brasileiro está na disputa por efeitos visuais de “Wicked”

Além de Fernanda Torres, mais um brasileiro está na expectativa de colocar no currículo uma estatueta do Oscar. O mineiro Romualdo Amaral faz parte da equipe de efeitos visuais de “Wicked”. O longa, que já arrecadou quase US$ 730 milhões de bilheteria e se tornou a adaptação cinematográfica mais rentável para um musical da Broadway, concorre em dez categorias no Oscar, inclusive Melhor Filme e Efeitos Visuais.

Cleide Klock, correspondente da RFI em Los Angeles

Há nove anos nos Estados Unidos, Romualdo já trabalhou em quase três dezenas de produções, como as da Marvel “Falcão e o Soldado Invernal' e “Capitão América: Admirável Mundo Novo”, que acaba de estrear, e nas séries premiadas “Stranger Things” e “Hacks”. Agora, pela primeira vez, teve a emoção de ver um filme para o qual colaborou ter indicações à maior premiação do cinema mundial.

“Foi felicidade em dose dupla. Eu estava no Brasil no dia das indicações e naquela expectativa. Começou e de repente saem as indicações de Melhor Filme Internacional, apareceu “Ainda Estou Aqui", fiquei muito feliz. Na sequência veio a de 'Wicked' para Melhores Efeitos Visuais. Fiquei bastante emocionado, vibrando, com a energia lá em cima", relembra. "Depois, Fernanda Torres indicada, surtei também, mas o meu maior surto foi em indicados a Melhor Filme”, diz Amaral, já que o filme do qual participou e a produção brasileira concorrem na categoria principal do Oscar.

Romualdo sempre foi fã de cinema. Na adolescência, ele mantinha um blog sobre a sétima arte, no qual falava dos filmes indicados. "Na noite do Oscar, sozinho na frente da TV em casa, eu me vestia de gala para acompanhar tudo", relata. "O Oscar para mim sempre foi uma grande festa, sempre fui apaixonado por cinema. Se 'Wicked' ganhar qualquer Oscar, já vou ficar super-realizado. Não precisa nem ser Efeitos Especiais”, celebra.

De Uberlândia para Hollywood

No Brasil, ele se formou em Computação na Universidade Federal de Uberlândia, mas encontrou seu espaço na indústria cinematográfica após um mestrado em Animação e Efeitos Especiais na Academy of Art University em São Francisco, dos Estados Unidos, onde chegou em 2016. 

"Graças ao meu trabalho no mestrado, que era um curta animado de três minutinhos, “Steve's Catch”, comecei a me candidatar para vários lugares, e logo a Marvel já me chamou. Meu primeiro trabalho foi 'Falcão e o Soldado Invernal'", indica.

Desde então, o brasileiro acumula projetos, muitos simultaneamente, já que trabalha para uma empresa que presta serviços para vários dos grandes estúdios de Hollywood. Romualdo conta que, em “Wicked”, trabalhou em diversas sequências fazendo a mágica que vai além do set de filmagens. A primeira cena da produção na qual se debruçou faz parte do filme 2, previsto para ser lançado no final de 2025.

“Eu trabalhei com a equipe de efeitos especiais que criou toda a parte falsa do ambiente. Apesar do filme ter vários elementos reais, eu acho que isso foi uma das coisas mais incríveis da produção em si, porque o diretor percebeu que não tinha como contar a história apenas com tela verde [o chroma key, técnica utilizada para modificar digitalmente um cenário]. Precisava fazer uma um processo criativo e teve todo um trabalho de design de produção", aponta. "Por exemplo, eles plantaram nove milhões de tulipas, só que não tinha como fazer tudo, então os elementos extras de fundo a gente recriou no ambiente da computação gráfica", conta.

Fernanda Torres e Ariana Grande

O grande favorito na categoria de Efeitos Visuais para o Oscar é “Duna: Parte 2”, mas na premiação tudo pode acontecer. Na expectativa, o brasileiro já comemorou adiantado a espécie de crossover que aconteceu recentemente e viralizou na internet – o encontro de Ariana Grande com Fernanda Torres no Festival de Cinema de Santa Bárbara e quando a atriz brasileira saudou a americana com a icônica jogada de cabelo da personagem Glinda, de "Wicked".  

“Na hora que eu vi aquilo, eu falei: ‘eu preciso colocar esse vídeo num potinho e guardar para sempre’. Foi épico, marcante, ver essa energia incrível", diz o artista, que acaba de dirigir mais um curta-metragem, “Small as a Pea". A previsão de lançamento é ainda neste ano.

Wicked no Oscar

O filme francês "Emilia Pérez" lidera as indicações ao Oscar 2025, disputando em 13 categorias. O musical "Wicked", de Jon Chu, empata com "O Brutalista", que também acumula 10 indicações.

"Um Completo Desconhecido” e “Conclave” vêm na sequência, somando oito indicações cada um.

As categorias em que “Wicked” foi indicado são:

Melhor Filme

Melhor Atriz por [Cynthia Erivo]

Melhor Atriz Coadjuvante por [Ariana Grande]

Efeitos Visuais

Melhor Figurino

Melhor Maquiagem e Penteado

Trilha Sonora Original

Direção de Arte

Edição de Filme

Melhor Conquista em Som

Histórias de superação e inclusão: Brasileiros estreiam nos Invictus Games de Vancouver, no Canadá
09 February 2025
Histórias de superação e inclusão: Brasileiros estreiam nos Invictus Games de Vancouver, no Canadá

O Brasil espera ter uma participação histórica nos Invictus Games, evento internacional para militares com deficiência criado pelo príncipe Harry em 2014, que acontece a cada dois anos. A atual edição, em Vancouver, inclui disputas em 11 modalidades, das quais seis são de inverno – biatlo, curling em cadeira de rodas, esqui alpino, esqui nórdico, skeleton e snowboarding – e cinco de verão – basquete em cadeira de rodas, natação, remo indoor, rúgbi em cadeira de rodas e vôlei sentado.

Luciana Quaresma

O Brasil se tornou o 24º país filiado aos Invictus Games, torneio que vai até 16 de fevereiro no Canadá. Segundo o tenente-coronel Davi Pavelec, da Comissão Desportiva Militar do Brasil e chefe da missão brasileira, estar em Vancouver “oferece uma plataforma inédita de reconhecimento pessoal e fortalecimento da autoestima para os veteranos”.

Fazer parte do torneio é uma demonstração do compromisso do país com a reabilitação e a valorização de seus militares. "Integrar este evento tem como objetivo promover a inclusão social, física e emocional dos nossos militares, oferecendo uma plataforma de superação e reconhecimento pessoal, além de fomentar um ambiente de apoio mútuo entre atletas", destacou Pavelec à RFI.

A delegação verde-amarela conta com oito atletas, que irão disputar as provas em duas modalidades: vôlei sentado e natação. No vôlei, o paranaense Alex Witkovski, que ficou em 6° lugar quando a delegação brasileira disputou os Jogos Olímpicos de Paris 2024, volta às quadras animado.

O Brasil deve aproveitar esta participação no Canadá para aprender mais com países como Estados Unidos, Reino Unido e Austrália, presentes desde a criação dos Invictus Games.

“Esses países já possuem uma forte infraestrutura de apoio aos militares paratletas, tanto para a reabilitação, quanto ao esporte adaptado. O aprendizado está na forma como essas nações estruturam suas equipes, preparam os atletas e utilizam os jogos como uma ferramenta de reintegração social e psicológica", afirma Pavelec.

Ele destaca a existência de um intercâmbio com nações mais experientes, por meio de parcerias com organizações internacionais, que ajudam a oferecer capacitação e troca de conhecimento sobre como otimizar programas de esporte para veteranos no Brasil. Pavelec cita os exemplos da Colômbia e da Argentina, que anualmente vêm ao Brasil para o Torneio Internacional Militar de Vôlei Sentado.

Formação da equipe: desafios e superação

Construir uma equipe para competir internacionalmente não foi simples. O Brasil enfrentou o desafio de estruturar um treinamento especializado. "Embora tenhamos iniciativas como o Programa de Paradesporto Militar, a cultura do esporte adaptado está em crescimento. Foi necessário um grande esforço para integrar o esporte à reabilitação", explicou Pavelec.

O Ministério da Defesa acredita que os Invictus Games atuarão como uma ferramenta crucial na recuperação física e emocional dos militares. "Esses jogos são mais que uma competição, são um gesto de solidariedade e comunidade entre os veteranos", destacou o tenente-coronel.

Os atletas foram selecionados com base em rigorosos critérios, considerando as habilidades esportivas e o desejo de superação pessoal. A preparação incluiu treinos frequentes com acompanhamento de técnicos especializados, para que os competidores estejam prontos para enfrentar os desafios com confiança.

Futuro planejado

Após a participação nos Invictus Games, o Brasil planeja continuar o investimento no esporte adaptado. "O fortalecimento da cultura esportiva entre os militares com deficiência será uma prioridade, garantindo que eles tenham oportunidades para praticar esportes adaptados e participar de competições promovendo suas reabilitações e integração à sociedade", disse Pavelec.

A delegação brasileira é composta por para-atletas das Forças Armadas e Forças Auxiliares. Para o general Paulo Afonso, diretor do Departamento de Desporto Militar, o evento "representa um marco no paradesporto militar brasileiro.

Inspirado pelo Warrior Games dos Estados Unidos, o príncipe Harry criou os Invictus Games como um evento internacional que utilizaria o poder do esporte para ajudar na recuperação e reabilitação de veteranos. A primeira edição aconteceu em Londres, no Reino Unido, em 2014, e se expandiu para incluir cidades como Orlando, Toronto e Sydney. Em 2025, a competição reúne cerca de 500 atletas de 24 nações em Vancouver.

Como todo bom filho à casa torna, a próxima edição dos Invictus Games acontecerá em Birmingham, em 2027, na Inglaterra.

Depois do Grammy, cantora Anna Torres leva mensagem de inclusão para Semana da Moda de Londres
08 February 2025
Depois do Grammy, cantora Anna Torres leva mensagem de inclusão para Semana da Moda de Londres

Após participar do Grammy 2025 com a música "Um mundo diferente”, na categoria especial da Melhor Canção para Mudança Social, a cantora maranhense Anna Torres, radicada na França, agora vai levar sua mensagem à Semana da Moda de Londres. Ela apresentará a mesma faixa, no final de fevereiro, no evento The Future of Fashion Show (O Futuro dos Desfiles de Moda, em tradução livre). A brasileira usa seu canto e sua experiência pessoal para dar voz a um mundo mais inclusivo.

Cleide Klock, correspondente da RFI em Los Angeles 

“O mundo está muito à deriva. Eu acho que a arte é uma das boas ferramentas que a gente tem para, pelo menos, tentar ajudar a melhorar esse mundo", disse a cantora à RFI em Los Angeles, após a cerimônia do Grammy.

A música “Um mundo diferente” foi composta em parceria com o brasileiro Marco Duailibe, e lançada para esquentar o clima dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris, em 2024. Pouco tempo depois, a canção já tem versões em sete idiomas.

Em Los Angeles, a cantora se apresentou na noite anterior à grande festa televisionada do Grammy, em um evento dedicado ao prêmio Harry Belafonte, criado há três anos para homenagear compositores que trazem mensagens sobre justiça social e que inspiraram um impacto global positivo.

Apesar de o prêmio ter ido para o norte-americano Iman Jordan, com a composição “Deliver”, Anna contou à RFI que o mais importante nessa jornada é dar eco à sua mensagem, que entrelaça a arte com o ativismo.

“Essa categoria foi uma homenagem que fizeram ao artista humanitário Harry Belafonte, que é um dos criadores do projeto “We are the world", junto com Quincy Jones, Michael Jackson e Lionel Richie e todos os grandes artistas que participaram do evento. Esse prêmio está dando a oportunidade de a gente estar falando sobre coisas relevantes para a humanidade e eu fico feliz por estar participando desse processo de sensibilização”, contou.

A inspiração para a música veio de casa. Anna é mãe de uma adolescente autista e decidiu escrever um pouco do seu sentimento diário. Ela acredita que é preciso enxergar beleza nas diferenças e transformar desafios em motivação.

Próxima parada: moda

Após quebrar as barreiras do esporte, nos Jogos Paralímpicos, e entrar para os holofotes da música mundial no Grammy, a próxima parada da artista é a Semana da Moda de Londres, onde participa de um show, em um desfile no dia 22 de fevereiro.

“Este será um desfile inclusivo organizado pela Samanta Bullock, que é uma grande ativista, na Inglaterra, em prol das pessoas com deficiência. Esse desfile será realizado por modelos profissionais que têm algum tipo de deficiência. Para mim é uma grande honra ser uma das porta-vozes das pessoas com deficiência no Brasil e no mundo", finaliza.

Alceu Valença faz turnê pela Europa com espetáculo "Valencianas"
31 January 2025
Alceu Valença faz turnê pela Europa com espetáculo "Valencianas"

O cantor e compositor Alceu Valença deu início à sua turnê europeia com o espetáculo "Valencianas". Ele recebeu a RFI em sua casa, em Lisboa, cidade que considera um segundo lar, antes de embarcar para Paris, onde se apresenta neste sábado (1°).

Luciana Quaresma, correspondente da RFI em Lisboa

"Lisboa sempre me recebe com um carinho especial, e a energia do público português é incomparável. Adoro caminhar de madrugada pelas ruas do bairro do Castelo de São Jorge, pelo Bairro Alto, com suas ruas estreitas e vibrante vida noturna", descreve Alceu Valença. "Adoro passear pelas margens do Tejo, pelos Sapadores e tomar um café no Dali”, comenta o cantor, que faz questão de sentir a essência musical que permeia a capital portuguesa que serve de inspiração para o artista.

O espetáculo "Valencianas" não é apenas uma reapresentação de seus sucessos, mas um projeto ambicioso que busca reinterpretar essas canções atemporais com arranjos orquestrais que ressaltam a riqueza da obra de Alceu. “Estamos trazendo uma nova roupagem para temas que o público já conhece e ama, ampliando as texturas e emoções através da orquestra”, comenta, em referência à colaboração com a Orquestra Ouro Preto.

Ele ressalta a emoção de se apresentar ao lado da formação, enfatizando a importância dessa colaboração para trazer uma nova interpretação de seus clássicos. "Estou animado para compartilhar com o público essa fusão entre a música popular brasileira e o rico som da orquestra, criando uma experiência única que eu espero que toque o coração de todos".

Os shows em terras lusitanas acontecem nos dias 8 e 9 de fevereiro, na Casa da Música, no Porto, e no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa. Antes disso, ele se apresenta na Sala Pleyel, em Paris, em 1° de fevereiro, segue para Utrecht, na Holanda (dia 3), Barcelona, na Espanha (dia 4) e Berlim, na Alemanha (dia 6).

Parceria duradoura com a Orquestra Ouro Preto

A colaboração entre Alceu Valença e a Orquestra Ouro Preto já dura mais de uma década e resulta em interpretações memoráveis que conquistam palcos no Brasil e no exterior. A orquestra é formada por trinta músicos e consolida sua reputação como uma das mais respeitadas do cenário musical brasileiro. 

Sob a direção do maestro Rodrigo Toffolo, a formação é reconhecida pela versatilidade e inovação com projetos como “Valencianas”, que contribuem para atrair novos públicos para este universo. "Valencianas é um projeto que une o sertão e o agreste do Brasil à música de concerto. É uma forma de mostrar que esses gêneros podem dialogar e se enriquecer mutuamente", afirma Toffolo.

O maestro elogia a ousadia de Alceu ao explorar novas sonoridades e a importância cultural do artista no cenário musical contemporâneo, destacando que suas composições têm uma contemporaneidade que cativa não apenas fãs, mas também novos ouvintes. “Ele consegue transcender fronteiras e épocas, e essa capacidade nos impulsiona a explorar arranjos que destaquem as nuances emocionais de suas canções”, diz.

Para ele, a união de elementos clássicos com ritmos regionais cria uma experiência única que ressoa com o público de diversas maneiras. “É um diálogo que revela a riqueza cultural brasileira e como esses gêneros podem se interconectar”, afirma o maestro. “Trabalhar com Alceu é uma oportunidade extraordinária, pois sua música é uma expressão genuína da cultura brasileira”.

Os arranjos orquestrais desempenham um papel crucial no espetáculo. “Buscamos manter a essência das obras de Alceu, mas, ao mesmo tempo, queremos expandir suas texturas através da orquestração”. As adaptações visam revisitar uma nova dimensão emocional, criando um ambiente sonoro que eleva a experiência do público.

Com a turnê europeia prestes a começar, a expectativa é alta. “Portugal, em especial, tem uma ligação muito forte com a nossa música e com Alceu", conta Toffolo. As atuações em cidades como Porto e Lisboa, além de outros palcos europeus, devem proporcionar momentos memoráveis, reforçando a tradição da música brasileira no exterior.

Com uma carreira de mais de cinquenta anos, Alceu Valença se destaca como um dos mais autênticos e inovadores artistas da sua geração. Reconhecido por sua habilidade em misturar diferentes estilos musicais, ele vê nas turnês internacionais uma oportunidade de se conectar com uma audiência global. “É sempre uma alegria levar minha música para fora do Brasil, especialmente em lugares como Portugal, que considero meu segundo lar pela afinidade com Lisboa, que me comoveu desde a primeira vez que estive aqui, e o carinho que recebo do público”, revela Valença que se divide entre Olinda, Lisboa e Rio de Janeiro.

Um repertório que promete emoção 

"Valencianas" oferece uma imersão nas canções que definem a carreira de Alceu Valença. Além de sucessos como "Eu Vou Fazer Você Voar", “Belle de Jour”, “Tropicana”, “Coração Bobo”, “Girassol”, “Cavalo de Pau”, "Solidão" e o imortal "Anunciação", revisitados sob a luz da orquestra, o repertório inclui também temas criados pelo próprio Alceu e a suíte Valencianas, composta por Mateus Freire a partir de diversas referências do universo do cantor.

O concerto reúne temas dos dois álbuns, ao vivo, que formam a essência do projeto: Valencianas I, gravado em Belo Horizonte em 2014 e vencedor do Prêmio da Música Brasileira, e Valencianas II, gravado na Casa da Música, no Porto, em Portugal, em 2020.

"Quem assistir 'Valencianas' vai entender a musicalidade brasileira no seu esplendor", descreve o maestro. "A poesia do Alceu emociona a gente até nas músicas mais conhecidas como 'Anunciação'. É algo assim que só o Alceu poderia pensar: "a bruma leve das paixões que vem de dentro"... Que coisa linda, que poesia linda, uma música extraordinária! Eu fico ali regendo ao lado dele e aproveitando muito para sair um músico melhor do que entrei em cada concerto com Alceu!”, diz Toffolo.

“Esperamos que o público não apenas escute, mas sinta a energia das canções. Queremos provocar emoções e abrir espaço para que cada um possa vivenciar a música de maneira única”, diz o maestro. “Este espetáculo é um convite para redescobrir a música brasileira sob uma nova luz. É uma celebração das nossas raízes, unindo diferentes gerações através da arte”, finaliza.

Academia Real de Londres abre as portas ao modernismo brasileiro com uma seleção de obras-primas
27 January 2025
Academia Real de Londres abre as portas ao modernismo brasileiro com uma seleção de obras-primas

“Brasil! Brasil!, O nascimento do modernismo”, assim mesmo: duas vezes, escrito com S e exclamação é um grito pela riqueza da arte moderna brasileira literalmente para inglês ver.

Yula Rocha, correspondente da RFI em Londres

A exposição reúne 130 obras de dez artistas brasileiros da velha guarda do modernismo como Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Cândido Portinari à Djanira, Volpi, Geraldo de Barros  na prestigiada Academia Real de Artes de Londres (Royal Academy of Arts).

O modernismo brasileiro, que buscou sua identidade ao se descolar do colonialismo europeu entre os anos de 1910 e 1970, ocupa todo o primeiro andar do enorme prédio fundado pelo Rei George III no fim do século 18. Uma das curadoras da mostra, Roberta Saraiva Coutinho, que é diretora técnica do Museu da Língua Portuguesa em São Paulo, conversou com a RFI durante o evento aberto à visitação da imprensa e ressaltou a relevância do conjunto das obras expostas diante do contexto político em que o mundo se encontra.

“A arte brasileira, o modernismo brasileiro em 2025, neste contexto que a gente está vivendo no mundo é uma coisa extraordinária. É muito comovente entrar nessa exposição e ver esse conjunto de obras emblemáticas do modernismo brasileiro que são as obras das coleções mais importantes do Brasil.”  Roberta Saraiva Coutinho

A curadoria da exposição teve o cuidado de manter algumas palavras em português na descrição das obras como, por exemplo, bandeirinhas das festas de São João no Nordeste. "Cada língua tem uma espécie de visão de mundo", explica Roberta.

“A exposição quer trazer essa visão de mundo do Brasil para Londres, esse mundo que é um mundo globalizado, compreendendo também o modernismo como um fenômeno global. Esse é um momento oportuno para se pensar tudo isso”, afirma.

A exposição é uma grande vitrine para o Brasil, mas não contou com apoio financeiro do governo. O modernismo chamou a atenção do Centro Paul Klee, que investiu em trazer as obras para Europa no ano passado. Primeiro para Berna, na Suíça, e agora para Londres em parceria com a Academia Real, que reuniu ainda outras sete obras de coleções privadas com quadros de Burle Marx adquiridos na última grande exposição de arte brasileira em 1944 na capital britânica, essa, sim, com apoio do nosso governo à época.

“Acho importante dizer que para uma exposição deste porte toda feita por instituições de peso do exterior, sem financiamento público brasileiro, nos coloca num outro nível, isso nos coloca num outro lugar”, acredita Roberta.

Os temas explorados por essa gama de artistas brasileiros há sessenta, oitenta anos, como o sincretismo religioso com o quadro dos Orixás de Djanira, a migração, trabalhadores do campo, festas regionais e representação indígena estão mais do que nunca na pauta do dia.

“A gente enxerga o mundo contemporâneo nesta exposição com obras de artistas como Djanira cuja voz foi tão pouco vista ao longo dos anos e agora retoma o seu lugar dentro da arte brasileira”, afirma Roberta.

A exposição“Brasil! Brasil!, O nascimento do modernismo” abre ao público no dia 28 de janeiro e vai até o dia 21 de abril.

Brasil é homenageado na Feira Internacional de Turismo e celebra parceria estratégica com a Espanha
27 January 2025
Brasil é homenageado na Feira Internacional de Turismo e celebra parceria estratégica com a Espanha

Nos últimos dias, Madri tem respirado turismo. Entre 22 e 26 de janeiro, a capital espanhola sediou a 45ª edição da Feira Internacional de Turismo, a Fitur. Este ano, o Brasil foi escolhido como país sócio do evento, recebendo destaque internacional. A feira reuniu 884 expositores, 9.500 empresas e representantes de mais de 100 países. Mais de 250 mil pessoas compareceram, entre profissionais do setor e visitantes.

Marcelo Freixo, presidente da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), celebrou a parceria com a Espanha neste que é considerado um dos maiores eventos turísticos do mundo. “O Brasil volta para o cenário mundial”, segundo Freixo, dialogando sobre questões como responsabilidade climática, democracia e o combate à fome. Para o presidente da Embratur, é “muito importante” que essas questões fundamentais tenham um “reflexo no Brasil do turismo, o Brasil que recebe o mundo inteiro para conhecê-lo”.

Freixo ressaltou ainda a imensa diversidade do Brasil, um país com 6 biomas, que vai muito além de “sol e praia” e que é profundamente plural também em termos culturais. “É isso que a gente apresenta nas feiras, é isso que a gente vem apresentar aqui na Espanha”, pontua.

Potência a explorar

Toda a diversidade que o país possui tem potencial para virar atrativo turístico, segundo o presidente. E, para colher frutos nesse sentido, a Embratur, além de dialogar com as companhias aéreas em busca de aumentar a conexão do Brasil com o mundo, tem trabalhado para uma maior relação com as agências de viagem.

Marcelo Freixo explica que foi lançada uma plataforma – em inglês e espanhol –, na qual os trabalhadores do setor turístico na Espanha poderão entrar para compreender melhor os destinos brasileiros e, assim, ter mais ferramentas para vender o país como uma boa opção para os viajantes. “Esse mundo das agências, que é quem na verdade organiza a ida dos turistas para os seus destinos, é um foco muito importante pra gente agora”, destacou.

Guia de investimentos

Outro produto lançado em Madri durante os dias de Fitur foi o guia Tourism Doing Business: Investindo no Brasil, elaborado pela ONU Turismo e pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe (CAF) em colaboração com o Ministério do Turismo brasileiro. A publicação tem como objetivo “explorar as diversas oportunidades e facilidades de investimento disponíveis no setor turístico e ressaltar as principais qualidades que fazem do país um destino turístico atrativo”, como é possível ler na introdução do material.

Como cinco aspectos mais relevantes para investir no Brasil, o texto elenca: “a diversidade da economia e o potencial de crescimento”; “a inovação e a tecnologia como motor de crescimento”; “a infraestrutura e a conectividade”; “a diversidade cultural e o talento competitivo” e a “abundância de recursos naturais e biodiversidade”.

Na última quinta-feira (23), houve evento para apresentar o guia na Embaixada do Brasil em Madri. O embaixador Orlando Leite Ribeiro destacou que a iniciativa tem um propósito bem definido: “Não estamos aqui só buscando turistas. A presença do Brasil na feira visa também atrair investimentos. A Espanha já é o segundo maior investidor no Brasil, atrás apenas dos Estados Unidos, mas no setor de turismo ainda é um pouco tímida”.

Presidência do Conselho Executivo da ONU Turismo

Durante os dias de Fitur, o ministro brasileiro do Turismo, Celso Sabino, cumpriu uma agenda intensa em Madri. Além de participar de diversos eventos conectados diretamente à feira, no último dia 23, ele assumiu a presidência do Conselho Executivo da ONU Turismo –  a agência das Nações Unidas que promove o turismo sustentável e acessível para todos. O ministro destacou que o feito representa um marco histórico, já que é “a primeira vez na história dessa entidade, que tem 50 anos, que um brasileiro ocupa esse posto”.

Sabino explicou ainda que a ONU Turismo promove um “debate em altíssimo nível” sobre temas como: o avanço do Turismo de forma responsável; a promoção, qualificação e capacitação profissional do setor; a promoção de novos destinos e a sustentabilidade como um todo. “E o conselho executivo da ONU Turismo é o órgão responsável por organizar a pauta, marcar as reuniões, definir as prioridades que serão levadas à assembleia geral”, continuou. “Tenho certeza que o Brasil vai agarrar essa oportunidade com unhas e dentes”.

Segundo os dados da Embratur, em 2024, o Brasil bateu um recorde no número de visitantes internacionais. O país alcançou a marca de 6.657.377 turistas estrangeiros, obtendo um crescimento de 12,6% em comparação com 2023. E 2025, segundo Celso Sabino, deve ser mais um grande ano para o turismo brasileiro.

“No ano passado, nós tivemos a presidência do G20, esse ano nós vamos ter a presença dos BRICS, vamos ter a Cop30 e, em 2027, vamos sediar o mundial de futebol feminino,”, destaca o ministro, enfatizando que cada um desses eventos contribui para o cenário de ascensão que o Brasil está vivenciando.

“Mas o fato é que nós viemos numa tendência”, pondera. “Superamos em 2024, por exemplo, marcas de quando o Brasil sediou as Olimpíadas, de quando o Brasil sediou a Copa do Mundo. O ano de 2024 foi bem melhor do que esses anos, inclusive”. Para o chefe do Ministério do Turismo, o objetivo é alcançar a marca dos 7 milhões de turistas estrangeiros visitando o Brasil, em 2025, e ultrapassar a marca de mais de 300 milhões de viagens domésticas de “brasileiro fazendo turismo dentro do Brasil”.

Ainda de acordo com a Embratur, mais de 1,4 milhão de turistas europeus desembarcaram no Brasil em 2024, um aumento de 16% em relação ao ano anterior. Desses, 128 mil viajaram da Espanha, representando uma alta de 12% em comparação a 2023. Já existem voos diretos ligando Madri e Barcelona a grandes cidades brasileiras como São Paulo e Rio de Janeiro. Além disso, Salvador também tem ligação direta com a Espanha, com voos sem escalas a partir de Madri.

Estados representados

A Bahia é um dos estados com estande próprio na Fitur. No espaço, uma baiana tradicional atrai todos os olhares. É Lucicleide Nascimento, que participa da feira há mais de 20 anos e encanta os visitantes com sua simpatia e traje típico, gerando grandes filas. São pessoas que querem tirar fotos, conversar e até fazer pedidos, já que a baiana também distribui as famosas fitinhas do Senhor do Bonfim. A gastronomia da Bahia, com seus sabores inconfundíveis, é outro trunfo para chamar a atenção de quem passa pelo estande.

“Tem uma degustação de cachaça, uma cachaça muito boa que é produzida na Bahia. E mais tarde vai ter o acarajé. O acarajé é um patrimônio imaterial, então todas as feiras que a gente vai que a gente faz a divulgação da gastronomia baiana”, Lucicleide Nascimento relata orgulhosa.

O Paraná também está representado com um espaço exclusivo na Fitur. É a primeira vez do estado com estrutura própria. A estreia acontece num momento em que o governo está investindo fortemente no setor de viagens, segundo conta Eduardo Aguiar, diretor de promoção comercial do Viaje Paraná.

Ele destaca que o destino prioritário da promoção turística do estado durante o evento é uma cidade que está em evidência: “A gente quer reforçar especialmente a presença de Foz do Iguaçu. (...) (O município) foi eleito agora pelo TripAdvisor como principal destino da América do Sul, então é um destino que a gente quer reforçar bastante aqui na Europa”.

Em frente ao estande do Paraná, está o espaço reservado a Pernambuco. Multicolorido e com a presença de uma dançarina de frevo e da La Ursa – personagem típica do carnaval pernambucano – a área exibe cultura por todas as partes. Afinal, o patrimônio cultural do estado é um fator que diferencia Pernambuco dos outros territórios nordestinos, também cheios de belas paisagens. Pelo menos é isso que afirma Eduardo Loyo, presidente da empresa de turismo de Pernambuco (Empetur).

Loyo explica também que a viagem a Madri tem como objetivo promover parcerias estratégicas, focadas em operadores de viagens espanhóis. “A gente já tem um trabalho semelhante a esse em Portugal e muito forte na América do Sul e quer  expandir aqui também para o mercado espanhol e tendo em vista que algumas novas conexões, Pernambuco – Madri, em breve podem ser anunciadas”, estima o presidente da Empetur.

Outro estado que também está representado por um estande exclusivo é o Rio Grande do Norte. Na “prateleira” da ativação montada na Fitur, se destacam cinco destinos. Três clássicos – Natal, Pipa e São Miguel do Gostoso – e outros que são apresentados como novidade: Galinhos e o Geoparque Seridó.

Reconhecendo que o Rio Grande do Norte não está entre os destinos brasileiros mais famosos, Raoni Fernandes, presidente da Emprotur, a Empresa Potiguar de Promoção Turística, afirma que o estado está focando em ações para aumentar a conectividade aérea com a Europa.

Fernandes também destaca a sustentabilidade e o ecoturismo como atrativos. “Toda a energia que está dentro da rede de distribuição do Rio Grande do Norte  é limpa e sustentável. Além disso, nós temos 11 unidades de conservação ambiental e quase todos os produtos turísticos do Rio Grande do Norte estão em áreas de conservação ambiental”, pontua.

Segundo o presidente da Emprotur, o tema das áreas de conservação ambiental é um dos que mais pontuam, que mais valorizam a pontuação no crédito de carbono. Por isso, ele diz que a intenção, na feira, é mostrar ao europeu que ele está indo para um destino que se preocupa com a descarbonização do planeta.

No estande do Ceará, o artesanato mostra a cara do estado para quem passa pela Fitur. Detalhes em palha, em madeira e no couro – inconfundivelmente trabalhado por Espedito Seleiro – se unem a imagens praianas que acompanham um paisagismo feito com base na vegetação cearense.

Há mais de 10 anos participando com estande próprio da Feira Internacional de Turismo, o Ceará está focado, em 2025, em apresentar destinos consolidados – como Fortaleza, Jericoacoara e Canoa Quebrada – e opções turísticas em ascensão como é o caso de Icaraizinho, Taíba e Fortim. Além disso, existe o objetivo de interiorizar o turismo, como explica Thiago Marques, coordenador de marketing da promoção turística do estado.

“O Ceará não é só praia, a gente também tem a zona de serras, que é muito interessante, e o sul do estado que já é bem forte na parte de turismo cultural, turismo religioso e ecoturismo também. Então tudo isso a gente tenta trazer aqui nesse estande, a casa do Ceará na Fitur, para as pessoas poderem conhecer um pouquinho mais”, enumera o representante cearense.

Maricá, Rio de Janeiro

Em meio a tantos estados com estandes próprios na Fitur, está uma cidade. Maricá, localizada a 60km do Rio de Janeiro, também tem um espaço exclusivo para mostrar as belezas naturais e a gastronomia local. O secretário municipal de turismo, José Alexandre Almeida, explica que Maricá tem investido na estrutura do aeroporto, criado há 5 anos, visando melhorar a conectividade com outros destinos.

Novos atrativos turísticos também estão sendo idealizados pelo prefeito da cidade, como comenta o secretário: “Ele quer trazer os teleféricos, os parques temáticos. A cidade está conversando aqui com o Puy du Fou, aqui pertinho, em Toledo, para ter uma filial do Puy du Fou no Brasil, em Maricá”. A ideia, segundo ele, é poder “se aliar a marca poderosa que já é o Rio de Janeiro”.

Representação interregional

Além dos estandes exclusivos de cada estado ou cidade, está o enorme espaço de 308 m², montado pela Embratur. Nele, trabalham 37 expositores das cinco regiões do Brasil. Definido como uma “vitrine para a riqueza cultural e as oportunidades de negócios”, o lugar é palco de rodadas de negociação e apresentações ligadas à cultura e à gastronomia do país.

Uma das atividades realizadas na edição de 2025 foi a preparação de um prato típico do Maranhão, o camarão no abacaxi. A receita, cujo resultado foi servido para degustação, foi executada pela chef Sarah Lima. Para ela, representar o país diante de um público tão amplo, é “um prazer muito grande”. A missão de levar a gastronomia brasileira mundo afora já foi cumprida por ela, além da Espanha, em países como a França e a Alemanha.

Na hora de escolher as delícias que irá reproduzir no palco, ela pensa em gerar interesse e desejo. “A gente busca trazer realmente os sabores do Brasil com receitas que são típicas, fáceis de realizar e que as pessoas tenham vontade de vir ao Brasil descobrir”, compartilha.

Ainda como parte da programação do estande da Embratur, visitantes da área Brasil puderam viver uma experiência de realidade virtual de imersão na Amazônia, com uma visão de 360° das belezas únicas da região. Elsa Hernández, que tem uma empresa de turismo no México, ficou encantada com o que viu.

“É uma experiência única porque, eu digo a você, é como se você estivesse lá na água. Você está tocando a natureza. Muito, muito bonito. É uma experiência muito bonita, e acho que vale muito a pena tê-la ao vivo” resume.

Conheça a brasileira Cristina Cordula, umas das pioneiras da consultoria de imagem na televisão francesa
22 December 2024
Conheça a brasileira Cristina Cordula, umas das pioneiras da consultoria de imagem na televisão francesa

Entre as brasileiras que conquistaram o seu espaço em Paris, certamente está a ex-modelo carioca Cristina Cordula. Em 30 anos na França, ela trilhou o seu próprio caminho no disputado mundo da moda. Porém, se engana quem pensa que a passarela até aqui foi um mar de rosas. Ela conta que, no início da carreira, encontrou muitas portas fechadas, mas que tudo mudou quando decidiu cortar o cabelo bem curto, que virou a sua marca registrada. Cristina não desistiu nas primeiras dificuldades e agora é uma referência de elegância, como conta nessa entrevista exclusiva à RFI Brasil.

Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris

RFI: Como foi conquistar o seu espaço, primeiro como manequim e modelo, e agora como consultora no país da moda?

Cristina Cordula: Foi difícil. Eu moro aqui há muitos anos e sou consultora de imagem, com um programa na televisão já há 20 anos e vários livros. Tudo na vida é difícil, ainda mais em um país que não é o seu. Foi muito trabalho para poder alcançar os meus objetivos. E talvez a forma que eu tenho de trabalhar, esse lado brasileiro, de ser mais positiva, mais alegre, ajudou. A consultoria de imagem é uma coisa muito particular, muito sensível. Então, uma coisa é você falar de um jeito sério, com gravidade, e outra coisa é você falar de um modo mais positivo: "olha só, você ficar tão mais bonita assim, minha querida, você vai ver!". Isso dá uma certa alegria para as pessoas. Então, acredito que é esse lado brasileiro que as pessoas gostam.  

RFI: Você estrelou vários sucessos na televisão, como "Um novo Look para uma nova Vida", "Rainhas do Shopping", entre outros. E você tem os seus bordões: "magnifaïk", "ma chérie", etc. Você não é só uma consultora de moda, mas também empresária, autora, tem a sua marca de maquiagem. Ao olhar para trás, como você avalia esses 30 anos em Paris?  

Cristina Cordula: Eu só posso ser muito grata com a minha trajetória de vida, com os programas, os meus livros, a minha linha de maquiagem, que eu lancei há dois anos, e a minha agência de consultoria de imagem. Eu fico muito feliz de ter conseguido alcançar isso aqui. Mas tudo é com muito trabalho. Nada se alcança assim fácil.  

RFI: Foi mais difícil ser consultora de imagem na França, um país que é símbolo de elegância e bom gosto?

Cristina Cordula: Eu acho que até no Brasil seria o mesmo trabalho, mas aqui tem a barreira da língua, de ter que se expressar de outra forma. Eu fui modelo internacional por muitos anos, eu morei em Nova Iorque, morei em Londres. Depois, eu decidi morar em Paris, fiquei aqui, onde construí a minha família. Eu era muito jovem quando eu saí do meu país, eu tinha 20 anos. Então, esses são momentos difíceis na vida e você precisa de muita coragem para continuar. Mas graças a Deus, com a força do meu trabalho, eu consegui e estou muito feliz aqui, muito feliz mesmo. Eu adoro este país.  

RFI: Uma das suas marcas registradas é o cabelo curto. Isso lhe abriu portas?  

Cristina Cordula: Meu cabelo curto foi feito quando eu era modelo em Milão, por um cabeleireiro brasileiro chamado Marco. Na época, eu estava chateada porque eu já estava aqui na Europa desde janeiro, nós estávamos em outubro, e eu não tinha conseguido ainda o trabalho que queria, com o glamour dos desfiles, fotos, etc. Eu estava triste, querendo voltar para casa, com saudades da minha família e falei: "Marco, eu vou voltar para o Brasil, porque o Brasil é o meu país. Eu trabalho muito bem lá, todo mundo me conhece, tenho a minha família lá, os meus amigos que amam muito. Não está dando certo para mim aqui, eu não sou feita para cá, o meu tipo não é para ser modelo na Europa". E ele falou: "Cristina, você não consegue trabalhar na Europa por causa do cabelo comprido. Não fica bem em você, é cafona. Você fica muito perua com esse cabelo. Aqui você tem que ter a sua diferença. Você tem que ter um estilo diferente de todo mundo". E aí eu falei: "você quer saber de uma coisa? Corta o meu cabelo, porque pior do que isso não vai ficar e cresce em dois minutos. Não tem problema". Aí, ele cortou e eu fiquei muito feliz com a imagem que eu vi e pensei "porque eu não fiz isso antes?" Gostei muito do meu cabelo e ele abriu muitas portas.A minha carreira de modelo explodiu. Eu fiz os grandes desfiles, de grandes marcas: Chanel, Dior, fotos para as revistas. Depois, a minha carreira, obviamente, quando eu cheguei aos 30 anos, parou e eu, ao mesmo tempo, me casei e tive o meu filho, que é franco- brasileiro, hoje com 30 anos. Eu construí a minha família. Eu queria continuar trabalhando na moda, mas fazendo alguma coisa que fizesse bem para as pessoas.  

RFI: Foi então que você se tornou pioneira na consultoria de imagem na França?

Cristina Cordula: Eu não queria só vender uma roupa. Eu queria fazer uma coisa que fosse mais humana. E aí eu escutei falar sobre a consultoria de imagem, que já existia nos Estados Unidos e na Inglaterra. Eu pensei: isso é maravilhoso, é um trabalho que eu vou usar o meu conhecimento e democratizar a moda também. Era o começo do fast fashion, no início dos anos 2000, e eu pensei que todo mundo tinha o direito de se vestir bem, de se sentir bonita e bonito. Então, eu trabalhei a minha própria técnica, comecei a estudar, comecei a aprender sobre cores e vi o que se fazia fora. Eu criei a minha própria técnica e abri a minha primeira agência. Era muito difícil na época, pois havia muito tabu, porque os franceses não aceitavam. Porque falar de imagem, de look, é uma coisa que pode ferir até o ego da pessoa. É uma coisa muito sensível. E os franceses têm muita resistência no começo, mas depois relaxam e aceitam. Eu comecei com isso aos poucos, então veio o programa da televisão, dois anos depois que eu abri a minha agência de consultoria e aí foi indo e até hoje estou aqui.   

RFI: Uma coisa que você ensina é se aceitar e usar aquilo que a gente tem de melhor. Você poderia dar um conselho aos leitores?  

Cristina Cordula: São as nossas diferenças que nos destacam. Essa coisa de ser igual a todo mundo e de estar na moda não serve para todos. Eu corto o cabelo assim porque está na moda, ou uso calça larga porque está na moda. Porém, de repente não fica bem em mim, com a minha morfologia. Essa calça pode não valorizar o seu corpo, os seus ossos, vai fazer você ficar baixinha, vai dar muito ombro, vai torcer o busto. Entendeu? Tem que usar uma roupa que seja obviamente moderna, mas que combine com a sua morfologia e que combine, também, com o seu estilo. Porque, por exemplo, uma pessoa que é descontraída, jamais eu posso propor a ela uma roupa muito chique, salto alto e saia justa, essas coisas muito sofisticadas, porque ela não vai gostar, vai se sentir fantasiada.  

RFI: Você tem saudades do Brasil e como é a sua relação com o país?  

Cristina Cordula: Claro que eu tenho saudades do Brasil. Nossa, eu sou brasileira! Eu vou ao Brasil sempre no Natal e pelo menos umas duas vezes por ano. Eu tenho uma relação maravilhosa com o Brasil. Eu tenho muitos amigos lá. Eu adoro o meu país e eu sinto muita falta. A coisa que eu tenho mais saudade do Brasil é a maresia. Eu sou carioca e o cheiro da maresia do Rio de Janeiro, aquele cheiro forte... Quando eu chego no Rio, eu digo: "é a minha madeleine de Proust", como a gente fala em francês.  

Na França, uma madeleine de Proust é uma espécie de gatilho que traz de volta uma memória de infância. A expressão vem do romance “Em Busca do Tempo Perdido”, de Marcel Proust, em que o narrador vê surgir uma lembrança, ao comer uma madeleine, essa iguaria francesa. Mais ou menos o que acontece com a carioca Cristina Cordula ao sentir o cheiro da maresia de sua terra natal, e que ela não esquece, apesar da vida de sucesso em Paris.  

Brasileira faz sucesso em Lisboa com serviços de limpeza
21 December 2024
Brasileira faz sucesso em Lisboa com serviços de limpeza

Quando a cearense Analberga Silva trocou Fortaleza por Lisboa, há sete anos, não imaginava que fosse criar uma empresa especializada em limpeza em Portugal, muito menos que teria, em quatro anos, um faturamento equivalente a quase R$ 5 milhões.

Fábia Belém, correspondente da RFI em Portugal

Analberga Silva trabalhava como gerente-administrativa do setor de Recursos Humanos de uma empresa no Brasil. Ao se mudar para Portugal, agarrou a primeira oportunidade que surgiu, numa imobiliária, onde era encarregada de alugar imóveis e entregar a casa limpa para os clientes. Mas encontrar pessoal especializado para fazer o serviço de limpeza não era uma tarefa fácil.

“Eu percebi que tinha muita dificuldade. Eu não encontrava empresas disponíveis. Por exemplo: eu alugava a casa hoje e queria a limpeza amanhã. Queria entregar [a casa] rápido para o cliente porque quanto mais rápido eu entregasse, mais rápido eu ganhava comissão.”

Foi então que Analberga teve a ideia de fazer ela mesma o trabalho com a ajuda de uma amiga. A cearense conta que os clientes que alugavam os imóveis gostavam tanto da qualidade da limpeza que acabavam por contratá-la para terem a casa limpa todas as semanas. A maioria dos clientes era formada por estrangeiros, “e estavam dispostos a pagar bem por esses serviços”, explica.

Quando percebeu, a então corretora de imóveis tinha muitos clientes fixos e um rendimento superior ao que ganhava na imobiliária.

“Eu só ganhava [comissão] cada vez que eu alugava [um imóvel], e isso demorava. Não era todo mês”, esclarece. Foi assim que, em 2018, ela decidiu abrir a Maid to You, uma empresa especializada em limpezas profissionais.

Atenção aos detalhes

No início, todo o trabalho era feito por Analberga e pela amiga, mas com o aumento da demanda, a empresa ganhou mais seis funcionários e também começou a oferecer o serviço de passar roupas a ferro. Atualmente, a Maid to You atende mais de 30 clientes fixos em Lisboa e nas cidades próximas da capital portuguesa. Na lista estão casas, apartamentos, escritórios, clínicas, escolas e condomínios.

Ao falar sobre os fatores que contribuíram para o sucesso do negócio, a empresária diz que “a atenção aos detalhes faz, sim, uma certa diferença, com certeza”.  Segundo ela, a disponibilidade dos funcionários para fazerem além do que lhes é pedido e a gentileza também têm cativado os clientes. “É muito nosso isso, muito do brasileiro”.

Segundo ela, os bons resultados da empresa também se devem à formação e ao treinamento que a equipe recebe periodicamente. “É um treinamento diferente”, que, de acordo com Analberga, não se restringe às principais técnicas de limpeza, mas também envolve os comportamentos que regem uma boa conduta profissional no ambiente de trabalho. Se a limpeza é na casa de um cliente, é importante ter “discrição” e “respeito à privacidade”, por exemplo.

Focada em inovação para melhorar a oferta dos serviços, a cearense de Quixeramobim alinhou as limpezas a práticas sustentáveis. As equipes passaram a utilizar equipamentos com alto desempenho e baixo consumo energético, e a usar produtos que causam menos impacto ao meio ambiente. “Produtos menos agressivos, mais sustentáveis, porque os produtos biodegradáveis são comprovadamente menos agressivos do que os convencionais”, esclarece.

Consultorias e formação para imigrantes e refugiados

Com o negócio indo bem, a brasileira começou a dar consultorias a pessoas e empresas que a procuravam porque precisavam aprender ou aperfeiçoar alguma técnica de limpeza. Algumas delas tornaram-se parceiras da empresária. “Se eu for fazer uma limpeza em um prédio inteiro - a limpeza pós-obra - e a minha equipe não for suficiente, faço parceria com a empresa que já fez consultoria comigo”, explica.  

Analberga também passou a ser convidada por organizações sem fins lucrativos para dar formações nas áreas de limpeza, mas também para passar e engomar roupas. A última aconteceu em novembro e reuniu mulheres refugiadas e imigrantes, que buscam apoio para a integração em Portugal e capacitação profissional.

As participantes “estagiaram nos meus clientes”, conta. Aprenderam técnicas de limpeza profissional e como empreender na área. “A ideia é fazer com que elas sejam autônomas e ganhem dinheiro oferecendo serviços de limpeza. Tem uma demanda muito grande aqui em Portugal para esse serviço. Então, tem muito mercado.”

Ao comentar o trabalho nas organizações e a importância do apoio às mulheres refugiadas e imigrantes, Analberga diz que “quis ajudar da forma que pode” por também ser imigrante e ter enfrentado dificuldades quando veio para Portugal.  

Para continuar ajudando na inserção profissional de pessoas, a brasileira vai lançar, em fevereiro, um curso on-line de 'engomadoria'. “É um curso só de passar a ferro. Ou seja, é para quem quer empreender sem gastar muito”, avisa.

E para quem pensa em ter o seu próprio negócio, a cearense de Quixeramobim aconselha. “Acho que é olhar para inovação. Em qualquer área em que você vai empreender, eu acho que é importante olhar para o que está faltando.”