"Literatura e educação são caminhos para o desenvolvimento da Guiné-Bissau"
02 July 2025

"Literatura e educação são caminhos para o desenvolvimento da Guiné-Bissau"

Artes

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O escritor guineense radicado em Paris, João Into Cabi, retrata no seu último livro "Minino de Criasson" a sua infância difícil na Guiné-Bissau e o papel fundamental das mães na educação. Com uma escrita marcada pela memória, o autor defende que a literatura e a educação são caminhos para o desenvolvimento da Guiné-Bissau.

Da infância na aldeia de Gam-Jandim, no norte da Guiné-Bissau, ao autor, João Into Cabi partilha no seu mais recente livro,"Minino de Criasson", também publicado em francês sob o título "Garçon Poli", um testemunho de resiliência, identidade e memória cultural.

A obra é uma homenagem ao povo guineense, às suas mães, e à infância marcada por escassez, mas também por dignidade. “Escrevi o livro para partilhar bons exemplos, aquela educação que a mulher guineense dá ao seu filho, mesmo com fome, sem nunca deixar de dar uma boa educação”, descreve o autor.

O universo narrativo de João Cabi é moldado pelas suas vivências. Nasceu numa aldeia sem electricidade, onde a lua era a única claridade e os brinquedos eram construídos a partir de nada. “As tampas de garrafas de cerveja serviam de rodas, e uma lata de sardinha com uma corda era o meu carro de brincar”, lembra.

Esta infância, sem conforto material mas com ensinamentos éticos, serve de pano de fundo ao livro ,"Minino de Criasson": “A minha mãe fazia-me compreender que com o pouco que tínhamos era possível viver. Isso é que me formou como homem. Isso é que me formou como escritor”.

A par da literatura, João Cabi construiu uma carreira como professor e formador de professores. Para ele, a educação é uma responsabilidade cívica e conta-nos que "ser professor foi um sonho desde cedo. Sempre quis contribuir para o meu país, como fizeram aqueles que nos deram a liberdade para sorrir e brincar livres”.

A escrita de João Cabi está enraizada na tradição oral guineense, mas também aponta a necessidade de repensar o presente. O autor não hesita em comentar a situação política da Guiné-Bissau: “É triste. Nem parece o país de Amílcar Cabral. Se os guineenses não trabalham para afirmar o suor de Cabral e seus camaradas, então Cabral morreu”, defende.

O escritor acredita que a literatura pode ser um instrumento de desenvolvimento. “A nossa cultura é composta por vários grupos étnicos e é uma riqueza. Se soubermos adaptá-la à linguagem do homem letrado, pode contribuir para transformar a Guiné-Bissau", concluiu.