O CRAC Occitanie, em Sète, França, acolhe até ao dia 31 de Agosto, a exposição les inégalités constantes des jours de Leonor*, da artista portuguesa Leonor Antunes. Trata-se de uma exposição desenvolvida a partir da mostra da desigualdade constante dos dias de Leonor*, apresentada no Centro de Arte Moderna Gulbenkian (CAM), em Lisboa, entre Setembro de 2024 e Fevereiro de 2025.
Concebida e produzida pelo CAM – Fundação Calouste Gulbenkian, a mostra conta com curadoria de Leonor Antunes, Marie Cozette (directora do CRAC Occitanie - Centro Regional de Arte Contemporânea) e Rita Fabiana, esta última responsável pela curadoria da versão portuguesa.
Distribuída por seis salas no rés-do-chão do CRAC, a exposição reafirma o percurso de mais de 25 anos da artista lisboeta, conhecida pelas esculturas suspensas que dialogam com a arquitectura e a história dos espaços onde se inserem.
No CRAC, o público é convidado a circular livremente entre os trabalhos de Leonor Antunes, pisando um chão que é ele mesmo também obra da artista.
As peças tomam forma no espaço.
E aqui tudo foi adaptado às características do edifício: a ausência de janelas, as divisões, o chão, que reaproveitei da exposição de Lisboa.
Este chão – feito de cortiça, latão e linóleo – é um dos elementos que liga as diferentes salas da exposição. Outro elemento é a corda de cânhamo que percorre todos os espaços, presa no tecto e suportando as peças: “Cada sala tem o seu novelo, reciclado de outras exposições. Esta linha vai-se desenrolando e cria uma malha onde tudo se liga.”
O título da exposição parte de um desenho de Ana Hatherly, artista, escritora e cineasta portuguesa, realizado em 1972 — ano de nascimento de Leonor Antunes — e onde surge o nome “Leonor”.
Os títulos das obras de Leonor Antunes são quase sempre citações ou nomes que carregam ecos de histórias esquecidas. A artista interessa-se pela forma como a história da arte, do design e da arquitectura tem deixado figuras femininas na sombra. Um desses casos é o de Sadie Speight, arquitecta e designer modernista britânica, que colaborou com o arquitecto Leslie Martin na concepção do edifício do CAM, mas cujo nome raramente é mencionado: “Ela teve um papel fundamental no projecto, mas nunca teve o reconhecimento que merecia.”
Essa aproximação entre obras e nomes pouco conhecidos é parte de um trabalho de investigação contínua da artista, que dedica “metade do tempo passado nessa pesquisa, nessa busca incessante” por figuras femininas que ficaram à margem da história da arte. Leonor Antunes não procura vitimizar essas mulheres, mas “situar o trabalho destas pessoas”.
Não é uma obsessão, mas um trabalho de situar estas figuras no tempo.
Nomeá-las é uma forma de não deixar que desapareçam.
A história da arte que nos ensinaram é patriarcal, masculina.
Mas há muitas outras histórias por contar.
A exposição les inégalités constantes des jours de Leonor*, de Leonor Antunes, pode ser vista no CRAC Occitanie, em Sète, França, até ao dia 31 de Agosto. A mostra conta com curadoria de Leonor Antunes, Marie Cozette e Rita Fabiana.