< Lamentações 3

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[1] Eu sou o homem que viu a aflição trazida pela vara da sua ira.
[2] Ele me conduziu e me fez andar na escuridão, não na luz;
[3] sim, ele voltou a mão contra mim vez após vez, o tempo todo.
[4] Fez que a minha pele e a minha carne envelhecessem e quebrou os meus ossos.
[5] Ele me sitiou e me cercou de amargura e de pesar.
[6] Fez‑me habitar na escuridão como os que há muito morreram.
[7] Cercou‑me de muros, e não posso escapar; atou‑me a pesadas correntes.
[8] Mesmo quando chamo ou grito por socorro, ele rejeita a minha oração.
[9] Ele impediu o meu caminho com blocos de pedra lavrada; fez tortuosas as minhas sendas.
[10] Como um urso à espreita, como um leão escondido,
[11] arrancou‑me dos meus caminhos e despedaçou‑me, deixando‑me abandonado.
[12] Preparou o seu arco e me fez alvo das suas flechas.
[13] Atingiu o meu coração com flechas da sua aljava.
[14] Tornei‑me objeto de riso de todo o meu povo; nas suas canções, eles zombam de mim o tempo todo.
[15] Fez‑me comer ervas amargas e fartou‑me de fel.
[16] Quebrou os meus dentes com pedras e pisoteou‑me na cinza.
[17] Tirou‑me a paz, e esqueci‑me do que é prosperidade.
[18] Por isso, digo: “O meu esplendor já desapareceu, bem como tudo o que eu esperava do Senhor ”.
[19] Lembro‑me da minha aflição e do meu delírio, da minha amargura e do meu pesar.
[20] Lembro‑me bem disso tudo, e a minha alma desfalece dentro de mim.
[21] Todavia, lembro‑me também do que me pode dar esperança:
[22] Graças ao grande amor do Senhor é que não somos consumidos, pois as suas misericórdias são inesgotáveis.
[23] Renovam‑se cada manhã; grande é a sua fidelidade!
[24] Digo a mim mesmo: “A minha porção é o Senhor; portanto, nele porei a minha esperança”.
[25] O Senhor é bom para com aqueles cuja esperança está nele, para com aqueles que o buscam.
[26] Bom é esperar em silêncio pela salvação do Senhor.
[27] Bom é que o homem suporte o jugo enquanto é jovem.
[28] Leve‑o sozinho e em silêncio, porque o Senhor o pôs sobre ele.
[29] Ponha a sua boca no pó; talvez ainda haja esperança.
[30] Ofereça o rosto a quem o quer ferir e engula a desonra.
[31] Porque o Senhor não o desprezará para sempre.
[32] Embora ele traga tristeza, mostrará compaixão, tão grande é o seu amor leal.
[33] Porque não é do seu agrado trazer aflição e tristeza aos filhos dos homens.
[34] Esmagar com os pés todos os prisioneiros da terra,
[35] negar a alguém os seus direitos, enfrentando o Altíssimo,
[36] impedir a alguém o acesso à justiça — não veria o Senhor tais coisas?
[37] Quem poderá falar e fazer acontecer, se o Senhor não o tiver decretado?
[38] Não é da boca do Altíssimo que vêm tanto as desgraças como as bênçãos?
[39] Como pode um homem em vida reclamar quando é punido pelos seus pecados?
[40] Examinemos e ponhamos à prova os nossos caminhos e depois voltemos ao Senhor.
[41] Levantemos o coração e as mãos para Deus, que está nos céus, e digamos:
[42] “Pecamos e nos rebelamos, e tu não nos perdoaste.
[43] “Tu te cobriste de ira e nos perseguiste, massacraste‑nos sem piedade.
[44] Tu te escondeste atrás de uma nuvem para que nenhuma oração chegasse a ti.
[45] Tu nos tornaste escória e refugo entre as nações.
[46] “Todos os nossos inimigos escancaram a sua boca contra nós.
[47] Sofremos terror e ciladas, ruína e destruição”.
[48] Rios de lágrimas correm dos meus olhos porque o meu povo foi destruído.
[49] Os meus olhos choram sem parar, sem nenhum descanso,
[50] até que o Senhor contemple dos céus e veja.
[51] O que eu enxergo enche‑me a alma de tristeza, por causa de todas as filhas da minha cidade.
[52] Aqueles que, sem motivo, eram meus inimigos caçaram‑me como a um passarinho.
[53] Procuraram fazer a minha vida acabar na cova e atiraram pedras sobre mim.
[54] As águas me encobriram a cabeça, e cheguei a pensar que o fim de tudo tinha chegado.
[55] Clamei pelo teu nome, Senhor, das profundezas da cova.
[56] Tu ouviste o meu clamor: “Não feches os teus ouvidos ao meu pedido por alívio, aos meus gritos de socorro”.
[57] Tu te aproximaste quando a ti clamei e disseste: “Não tenha medo”.
[58] Senhor, tu assumiste a minha causa e redimiste a minha vida.
[59] Viste, Senhor, o mal que me fizeram. Julga a minha causa!
[60] Viste toda a vingança deles, todos os seus planos contra mim.
[61] Senhor, tu ouviste os seus insultos, todos os seus planos contra mim,
[62] aquilo que os meus inimigos sussurram e murmuram o tempo todo contra mim.
[63] Olha para eles! Sentados ou em pé, zombam de mim com as suas canções.
[64] Dá‑lhes o que merecem, Senhor, conforme o que as suas mãos fizeram.
[65] Coloca um véu sobre o coração deles, e esteja a tua maldição sobre eles.
[66] Persegue‑os com fúria, ó Senhor, e elimina‑os de debaixo dos teus céus.